Empresas

Kering dispara na bolsa com possível nomeação de Luca de Meo como novo CEO

As ações da Kering, conglomerado francês dono de marcas de luxo como Gucci e Saint Laurent, subiram mais de 10% nesta segunda-feira (16) após a divulgação de que Luca de Meo, atual CEO da Renault, pode assumir a presidência do grupo. A mudança sinaliza uma nova fase nos esforços de reestruturação da empresa, que vem enfrentando dificuldades para recuperar seu prestígio no competitivo mercado de luxo.

A saída de De Meo da Renault foi oficialmente confirmada no domingo. Em comunicado, a montadora francesa afirmou que o executivo deixará o cargo no dia 15 de julho para “assumir novos desafios fora do setor automotivo”. O jornal francês Le Figaro foi o primeiro a divulgar sua possível transição para a Kering, embora a empresa não tenha comentado oficialmente sobre o assunto.

O mercado reagiu de forma imediata. Às 9h45 (horário de Londres), as ações da Kering registravam alta de 10,3%, refletindo o otimismo de investidores e analistas com a possível chegada de De Meo. Já os papéis da Renault caíram 7%, sinalizando preocupações com a liderança futura da montadora.

Analistas da Bernstein destacaram que a especialidade de De Meo em gestão de marcas e marketing se alinha bem com as demandas do setor de luxo. Com mais de 30 anos de experiência no setor automotivo, o executivo italiano já passou por gigantes como Toyota, Fiat e Volkswagen. Na Renault, é amplamente creditado por conduzir uma recuperação significativa da empresa, com as ações valorizando mais de 90% durante seu mandato de cinco anos.

Apesar da expectativa positiva em torno da possível nomeação, os desafios que aguardam De Meo são grandes. A Kering tem sido uma das empresas de luxo com desempenho mais fraco nos últimos anos, especialmente devido à queda no apelo da marca Gucci entre os consumidores. Em dois anos, as ações da Kering perderam mais de 60% de valor, pressionadas por sucessivos alertas de lucro e mudanças nas equipes criativas da grife.

O atual presidente e CEO do grupo, François-Henri Pinault — herdeiro da família que controla a Kering — ocupa os dois cargos há duas décadas. No entanto, segundo fontes ouvidas pela agência Reuters, ele já trabalha ativamente em um plano de sucessão e pretende separar as funções de presidente do conselho e diretor-executivo. Ainda não está claro se Pinault continuará como presidente.

Thomas Chauvet, analista sênior de ações do Citi, elogiou a liderança de De Meo na Renault, especialmente sua aposta na inovação tecnológica e reposicionamento da marca. Contudo, ele ressaltou que revitalizar marcas de luxo como Gucci e Saint Laurent será uma tarefa complexa.

“Hoje, reverter o desempenho de marcas de luxo exige mais tempo, investimento elevado e enfrenta resistência do mercado financeiro, que tende a favorecer marcas consolidadas em vez daquelas em processo de transição”, escreveu Chauvet.

O analista acrescentou que ainda há muito trabalho a ser feito na Gucci e na Saint Laurent para restaurar o prestígio das marcas e garantir um fluxo constante de receitas e geração de caixa para o grupo. Caso esse objetivo seja alcançado, isso poderia levar a uma reavaliação significativa do valor da empresa.

Em abril, a Kering já havia apresentado resultados decepcionantes: as vendas do primeiro trimestre caíram 14% na comparação anual, resultado pior do que o esperado. A Gucci, responsável por quase metade da receita do grupo, liderou as perdas com uma queda de 25% nas vendas em termos comparáveis, refletindo o cenário macroeconômico desfavorável.